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UMA MULHER POR GUARNIÇÃO POLICIAL...

fonte: danillo ferreira


Um dos temas mais polêmicos nas discussões sobre segurança pública no Brasil é a presença das mulheres nas polícias. Apesar de todas as organizações policiais brasileiras já admitirem que parcela do seu efetivo deve ser feminino, ainda prevalece a cultura que desabona as mulheres enquanto profissionais de polícia, notadamente quando vislumbramos o perfil do policial ligado à linha de frente, à operacionalidade, ao serviço de rua. Como é costume no Brasil, o preconceito não se manifesta explicitamente, mas de modo velado e corrosivo. Discutir a questão, buscando entendimentos, é o primeiro passo para amenizar os danos que esta visão ocasiona.

Primeiro é preciso que identifiquemos a gênese da supervalorização do homem nas polícias. Tal sentimento está diretamente ligado ao que é a polícia para nós, às definições de qual deve ser o papel da polícia na sociedade, enfim, à identidade da polícia.

Por que conseguimos tão facilmente adaptar a ideia que temos da polícia à ideia que temos do masculino?
Provocados esses questionamentos no leitor, cabe ressaltar que a masculinidade em nosso mundo está fortemente associada à ideia de agressividade e de violência, observação feita por inúmeros estudiosos, intuitivamente fácil de conceber, e provada pelos números da violência em qualquer cidade do mundo. (Leiam “Violência e estilos de masculinidade”, de Fátima Regina Ceccheto, para um aprofundamento).

O perfil do macho, e sua virilidade, se adéquam facilmente ao perfil geralmente formulado para o policial. Quantos de nós, policiais homens, num simples gesto de cordialidade ou polidez já não fomos surpreendidos com a frase: “nem parece que você é policial…”?

Em poucas palavras, a exaltação do homem nas polícias está ligada a um conceito equivocado do que vem a ser a atividade policial. As políticas públicas, ou falta delas, que sucessivamente o Brasil tem visto no campo da segurança fortalecem a intervenção do senso comum na atuação policial, que acaba reproduzindo a cultura do homem macho, viril, agressivo, violento.

Em texto recente neste blog, a Aluna a Oficial PM e antropóloga baiana Luciana Prazeres disse que as policiais femininas brasileiras eram “destacadas como ‘bibelôs’ que salvaguardavam o caráter politicamente correto que o ambiente (policial) enseja”. Perfeita construção, que merece ser expandida, para mostrarmos quantos outros “bibelôs” temos nas corporações policiais brasileiras – o conceito de “Polícia Comunitária”, os “Direitos Humanos”, o “policiamento de proximidade” e “cidadão” etc.

Nada mais natural que neste contexto de equívocos, ignorado e exaltado inclusive por muitas mulheres policiais, as PFem’s sejam subempregadas, relegadas à atuação administrativa (sem desmerecer tal função), uma vez que elas mesmas são as primeiras a rechaçar a participação numa atividade tão viril quanto o policiamento de rua parece ser (o policiamento de ruados moldes atuais sofre a mesma impopularidade entre as mulheres que o balé sofre entre os homens, por motivos culturais/tradicionais).

Julgo que a atividade policial deva ser técnica, profissional, pautada em princípios de negociação e interação com os cidadãos. Eis o que é preciso ser entendido para que deixe de ser óbvio que todos os policiais devem ser do sexo masculino.

Uma boa medida para dar início a esta tendência, seria empregar pelo menos uma mulher policial em cada guarnição na rua. Intuo que os abusos e agressões em serviço diminuiriam significativamente. Mas é preciso lembrar que nós, homens, além de termos como valores a violência e a agressividade, temos também a sedução pelo poder. Deste modo, adotar medidas como a sugerida seria um risco muito grande, não acham?

*Este texto é uma exaltação à posse de Regina Miki como Secretária Nacional de Segurança Pública.

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1 comentário

  1. Bom dia.
    Quem trabalha nas ruas no combate ao crime em cidades como planaltina df, são sebastião paranoá etc.. realmente preferem trabalhar em viaturas com guarnições compostas por homens. Isso não é machismo, tem mulheres boas de serviço? Tem. Mais a maioria pelo seu proprio modelo natural da mulher ela não foi feita pra certos tipos de funções principalmente naquelas em que se usa a força física e o trabalho de rua é um deles. Ja presenciei varios comandantes de viaturas tentando mesmo que disfarçado um jeito de trocar uma mulher por um homem. A não ser que seja no plano piloto, guará nessas areas onde o povo é mais educado e respeitam as autoridades.
    Abraços.

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